domingo, 1 de maio de 2011

A Visão Budista da Morte

Uma entrevista com Bhante Gunaratana, com Samaneri Sudhamma e Margot Born



MB: Qual é a visão geral Budista sobre a morte?

Bhante Gunaratana: Primeiro, a definição. Quando a força vital – calor e consciência – cessam de existir, a isso chamamos de morte. A morte pode ocorrer: (1) quando o kamma da pessoa estiver esgotado; (2) quando o tempo de vida da pessoa estiver esgotado, isto é, a duração daquela vida em particular ( a pessoa só pode viver aquele tanto e depois disso tem que morrer); (3) Quando ambos o kamma e o tempo de vida se esgotam juntos; (4) quando a vida termina devido a acidentes, causas não naturais. Essas são as maneiras como a morte pode ocorrer.

Mas no Budismo a morte não é o fim completo da existência. A morte é apenas o encerramento de um capítulo e o capítulo seguinte é aberto imediatamente em seguida. Esses dois sempre ocorrem imediatamente em seguida – morte e renascimento.

Sudhamma: As pessoas estão sempre preocupadas com como se preparar para a morte. Talvez existam dois níveis que devam ser tomados em conta. Sendo que, um é sobre como preparar a mente comum para esse evento, ou, o que é adequado fazer no momento da morte. E o outro é como superar o ciclo de nascimento e morte. Em outras palavras, como se preparar para a morte, não estando mais sujeito à morte .

Bhante Gunaratana: Entendo. Queremos conversar sobre dois tipos de morte. Uma é a morte convencional e a outra é a morte final. A morte convencional também tem dois lados, uma é a morte momento a momento, a outra é a morte “real” da qual não é possível reviver. Na morte momento a momento, parece que você sobreviveu. Você ainda existe. Mas na verdade, tudo no corpo e na mente está morrendo a cada instante. E está sendo renovado – está renascendo. A repetição de morte e renascimento não parece estar ocorrendo. Parece que estamos vivos. Mas você tem que compreender que a morte ocorre a cada instante. Compreender essa verdade é o passo mais importante na preparação para a morte. Isso é compreender o significado da morte. Se compreendermos isso, compreenderemos que a morte “real” é apenas mais um momento. E até aquele momento eu já terei morrido trilhões de vezes. Cada um desses momentos foi uma morte momentânea.

MB: E isso, creio, é o que compreendemos através da meditação?

Bhante Gunaratana: Sim, isso é o que compreendemos através da meditação. Na verdade, se você pratica meditação de insight e meditação de concentração, uma ajuda a entender a outra. Assim, se você tiver um insight irá compreender o que é concentração. Se você estiver concentrado irá compreender o que é insight. Com a mente concentrada e com atenção plena, você realmente sente, experimenta e compreende essa morte momentânea. Você sente as palpitações, o batimento cardíaco, as vibrações nervosas, as sensações mudando, as percepções mudando e cada pensamento mudando.

Mudança, significa unicamente morte momentânea. Quando as coisas mudam, elas nunca podem ser revividas. Quando um pensamento momentâneo está morto, aquele pensamento momentâneo nunca mais irá reaparecer. A morte de uma célula quer dizer que quando ela morre, está terminada. Aquela célula nunca tornará a reviver. Ela não deve permanecer no corpo. Tem que ser descartada, expelida do corpo, para que outras células possam crescer e se desenvolver. Se elas não forem descartadas pelo corpo, elas crescerão em número e poderemos desenvolver câncer.

Uma vez morta, a célula tem de ser descartada, exatamente como quando o corpo humano morre, ele tem que ser descartado. Tem que ser tirado da casa. Tem que ser levado para algum lugar para ser enterrado ou queimado para que os demais possam viver uma vida saudável, higiênica.

Esse tipo de coisa está ocorrendo o tempo todo. Através da meditação Vipassana vemos a morte momento a momento, nós a experimentamos, nós a conhecemos, tornamo-nos plenamente conscientes dela, e essa é a maneira de se preparar para a morte. Assim nos preparamos para a morte “real” no nível experiencial.

Além disso, nos preparamos para a morte “real” encarando-a de forma lógica. Você apenas precisa abrir os olhos e olhar à sua volta. Tudo está morrendo o tempo todo. Você pode notar que as árvores, plantas e insetos morrem o tempo todo. Ao ter vivido quarenta anos, por exemplo, se você contar o número de amigos, parentes e conhecidos que já morreram, você deveria um dia sentar e pensar, “Desta maneira eu devo entender que com a quantidade de amigos, parentes e conhecidos – com todas essas pessoas que já morreram, em algum momento será a minha vez. Portanto, eu sei que irei morrer, meus amigos, colegas de escola, um a um, um a um, morreram. A minha vez deve estar chegando.” Essa é uma outra forma de encarar a morte.

Uma outra maneira lógica de encarar a morte é pensar que todos nós somos feitos de elementos impermanentes. Por exemplo, nós somos constituídos dos elementos: terra, água, fogo e ar. No entanto, amanhã eles não estarão mais presentes. Conseqüentemente, esses elementos não serão nunca permanentes. Os elementos que constituem o corpo estão sujeitos à morte, à impermanência. Por isso o seu produto também será impermanente. Não há como parar isso. Então, examinar os elementos que constituem o corpo é uma outra maneira lógica de encarar a morte.

Uma vez que tenhamos compreendido a verdade da morte, deveríamos pensar, “Agora que irei morrer, porque deveria ter orgulho de alguma coisa? Estou intimidado pelo pensamento da morte, não tenho nenhum motivo para ter orgulho de nada. Não tenho motivo para estar ressentido com ninguém. Cedo ou tarde irei morrer e não tenho motivo para tentar apegar-me a qualquer coisa. Não importa a firmeza com a qual eu me apegue ao que quer que seja, isso irá escapar da minha mão no momento da separação. Portanto, também não preciso da cobiça. Penso que, se não me apegar à cobiça, minha morte será bem pacífica.”

A próxima coisa a pensar é, “Eu sei que irei morrer, penso que é bom morrer de forma pacífica, portanto devo me preparar para isso. Que eu esteja em paz o tempo todo.” Isso não quer dizer que você irá deitar no meio da rua para ser atropelado ou que você deve tomar veneno, ou se suicidar. Essa não é a forma de obter paz. Temos que viver esta vida enquanto ela durar. Temos que continuar com o que estamos fazendo. Portanto, precisamos pensar, “Como irei morrer de qualquer jeito, devo morrer em paz.” Para morrer em paz precisamos preparar as nossas mentes para estarem em paz. Uma morte pacífica é uma morte sem dor.

MB: Você poderia nos falar um pouco sobre a dor física devido à enfermidade?

Bhante G: Sim, quando meditamos sentimos dor física, por exemplo, dores nos joelhos. Podemos usar essa dor para nos prepararmos para a dor de uma enfermidade terminal. A dor no joelho é igual à dor de um câncer. Penso que se um câncer afetar o nosso sistema nervoso então sentiremos dor o tempo todo. O que quer que façamos, os nervos estando expostos, sentiremos dor.

Por isso precisamos preparar as nossas mentes aprendendo a praticar a meditação das sensações. Determinamo-nos a observar sempre as nossas sensações, seja ela qual for, mesmo uma pequena dor de dente, dor no pescoço, qualquer dor por menor que seja. Se estamos experimentando dor, meditamos sobre ela. Quando a dor surge, nós focamos a atenção nela. Vemos como ela surge, quanto tempo permanece, e depois nós a vemos desaparecer. Por menor que seja a dor, ela possui sempre esses três estágios, o seu momento de surgimento, o seu momento de pico e o seu momento de desaparecimento.

Se condicionarmos a nossa mente a permanecer com a dor, ou com aquela sensação, então a nossa mente poderá ser absorvida por aquela sensação e tornar-se uma só com ela. Se nos voltarmos contra a dor, estaremos nos dividindo. Mas se tentarmos aceitar tudo que surgir, iremos nos absorver naquilo. Mesmo quando sentimos uma dor intensa, chegaremos a um ponto em que a mente não é mais capaz de tolerar a dor e então a mente se funde com a dor. Depois disso, o que acontece já não tem importância.

Assim, antes que a morte ocorra, aprendemos a aceitar e a permanecer de bom grado com a dor, aprendemos a observá-la e a não ficar preocupado com ela. Quanto mais nos preocuparmos com a dor, mais doloroso será. Quanto mais relaxarmos com a sensação, menos doloroso será. Tive alguns amigos que morreram com dores físicas terríveis. Eles se recusavam a tomar medicamentos. Apesar disso, eles até explicavam para as visitas onde o câncer estava, como havia se desenvolvido e em que estágio se encontrava. Ao invés das visitas consolarem o paciente, era o paciente quem consolava as visitas.

O paciente pensava que as visitas vinham por compaixão, simpatia, para encorajá-lo, mas ao relaxar com a dor, era ele quem dava compaixão, simpatia e encorajamento para as visitas. Deste modo, a dor física numa enfermidade terminal não é necessariamente um obstáculo para uma morte pacífica.

MB: Mas e quando a pessoa ultrapassou o limite tolerável da dor, quando se torna impossível relaxar e absorver-se na dor?

Bhante G: Você sabe, existem dores que uma pessoa é incapaz de tolerar e nesse caso a medicação é necessária. Mas nós podemos primeiro tentar aumentar a tolerância à dor condicionando a mente e preparando-a para aceitar a dor física. Podemos condicionar a mente aconselhando de forma gentil e suave que a pessoa medite. Podemos entoar alguns cânticos que acalmam e tranqüilizam, tocar música que acalme e tranqüilize para preparar a mente, para ajudar a mente a ficar em paz. Dar-lhe instruções sobre como meditar.

Não se esqueça que quando as mulheres sentem as dores do parto são orientadas para concentrar a atenção na respiração. Elas mantêm a respiração dentro de um certo ritmo. Ao empurrar o bebê para fora elas estão focando na respiração, no corpo e no ato de empurrar.

Essa é uma coisa muito bela para ser lembrada. Podemos usar essa informação para ensinar as pessoas. E essas mulheres dão à luz aos seus bebês com menos dor porque elas foram treinadas nesse procedimento. Assim treinamos a mente a aceitar a dor. Podemos usar essa informação das mulheres dando à luz para ensinar as pessoas que estão morrendo como lidar com a dor.

Assim, temos que treinar a mente. Ao invés de primeiro lidar com a dor física, aprendemos a lidar primeiro com a mente. Como esses dois estão sempre cooperando um com o outro, quando o corpo se acalma, a mente se acalma. Eles estão sempre se complementando.

MB: Qual a sua opinião quanto às drogas usadas para eliminar a dor?

Bhante G: Eu penso que elas possuem efeitos colaterais. Elas podem reduzir a sua pressão arterial. Algumas pessoas não podem tomá-las, e elas podem ser muito perigosas. Há um limite para a dosagem que pode ser mantida na corrente sanguínea da pessoa.

Mas a meditação foi inventada muito antes da descoberta dos medicamentos. Nos dias de hoje as pessoas não dão muita atenção ao treinamento espiritual e vão direto para os narcóticos ou drogas para eliminar a dor. Agora queremos inverter a ordem porque o tratamento espiritual é mais saudável que o tratamento químico.

As pessoas tomam todo tipo de pílulas, você sabe, e todas elas têm efeitos colaterais, particularmente depois de usadas durante muito tempo. Mas o treinamento espiritual nunca terá efeitos colaterais. Ele é sempre positivo. Sempre prolonga a sua vida. Mas se ele tiver qualquer efeito colateral, será para melhorar a sua vida, dando um novo sabor a ela. Se você realizar essas práticas enquanto enfermo, ao se recuperar, elas produzirão um efeito pacífico que se prolongará para além da recuperação daquele estado doloroso.

Agora, para retornar ao tema da morte. Na verdade nos desviamos um pouco, porque a enfermidade pode ser a causa da morte e a enfermidade provoca dor. Morrer de forma rápida, sem dor, não é nenhum problema. Por esta razão, creio que falar sobre a dor é essencial em qualquer discussão sobre a morte.

Sudhamma: Falamos sobre dois tipos de morte: momento a momento e a “real.” Em certo ponto você falou sobre abandonar os ressentimentos e a cobiça e ter uma mente pacífica. O que você queria dizer com isso?

Bhante G: Gostaria de falar sobre a morte permanente, isto é, morrer para nunca mais renascer. Vocês estão cansados desses nascimentos e mortes, momento a momento, vida após vida. Assim, um momento inicia e termina e um outro inicia e termina. Uma vida inicia e termina e outra inicia e termina. Ficamos cansados disso tudo. Então queremos a morte e não renascer nunca mais.

A morte causa o nascimento porque existe o desejo de renascer. Enquanto existir esse desejo, haverá o renascimento. Quando o desejo de renascer estiver extinto, então não haverá mais renascimento.

E isso nos leva ao último estágio da iluminação.

Sudhamma: Quando você estava falando sobre a morte, você falou sobre “fazer com que a mente fique em paz” e disse algo sobre “Que eu tenha uma mente pacífica. Que eu tenha uma morte pacífica.” Esse tema foi concluído?

Bhante G: Sim, mas eu gostaria de mencionar uma outra coisa. Quando a morte está se aproximando, com freqüência a pessoa sente remorso, pesar e culpa. Essa é uma outra razão para sentir medo. Como ela sabe que irá renascer e que fez muitas coisas erradas, no momento da morte ela se lembra disso. A isto se denomina “o pensamento mais próximo da morte”. Nesse pensamento, naquele instante que antecede a morte, ela se lembra de forma clara, como um relâmpago, de certas coisas que aconteceram durante a sua vida. A morte também é dolorosa sob o ponto de vista psicológico.

Então, quando uma pessoa está morrendo, pessoas cheias de compaixão ajudam-na a ter uma morte pacífica contando-lhe as boas coisas que ela fez. Por exemplo, se ela criou filhos, elas poderão falar- lhe sobre o quanto ela fez pelas crianças e sobre todas as outras coisas boas que ela tenha feito para os outros. Se ela tiver irmãos e irmãs, elas poderão relembrar as boa ações que ela tenha realizado. Qualquer coisa positiva que ela tenha feito, tal como, plantar árvores, limpar a rua, podem ser lembradas, com convicção.

Além disso, elas podem sugerir que ela pense em um objeto que traga paz, como o Buda, uma luz celestial, a tranqüilidade e a paz, a alegria que teve na vida, para tentar bloquear os pensamentos negativos. Da mesma forma, se você conhecer uma pessoa religiosa, um monge ou sacerdote ou alguém semelhante, chame-o e peça que ele faça um sermão. Embora a pessoa que esteja morrendo possa no passado ter odiado sermões, agora ela irá ouvir os sermões com vontade, pois não existe nada mais a ser feito.

Essas são, portanto, as coisas que uma pessoa que esteja morrendo pode fazer e que outras pessoas podem fazer para ajudá-la a morrer em paz.

MB: Eu estive lendo um livro de Philip Kapleau (The Wheel of Birth and Death). Ele fala de um modo que me deixou com dúvidas sobre o eu, o não-eu e a morte. Depois de ler o livro eu pensei, “Como pode existir a morte, se não existe nada para morrer?”

Bhante G: Isso soa bastante abstrato – dizer que não existe nada para morrer. Essa é a base filosófica do que estamos fazendo. Em última análise, nada existe. E quando nada existe, não existe nada para morrer.

Mas você tem que ter um estado mental muito poderoso para ter esse tipo de pensamento no momento da morte. Muito antes da morte, enquanto ainda estiver saudável, você poderá ter esse tipo de pensamento, mas no momento da morte os seus sentidos estarão enfraquecidos. A sua capacidade para pensar estará enfraquecida. Quando você está à beira da morte, tudo fica mais fraco.

De acordo com o Abhidhamma, existe neste momento um fluxo fraco de consciência. O processo cognitivo é mais curto. Em outras circunstâncias, o processo cognitivo possui dezessete momentos. Quando vem a morte, o processo cognitivo tem quinze ou treze momentos. Como tudo está muito fraco, quando você está quase morto, o que resta é apenas um pouco de consciência. Você não está interessado em nada nessa situação. Eu não creio que a filosofia poderia ajudar muito.

MB: Eu também estive lendo um livro do Stephen Levine (Who dies? An investigation of conscious living and conscious dying) e ele diz que se você conseguir compreender que de todos os modos não existe nada a que se apegar, você não terá tantos problemas para se soltar das coisas no fim. Nesse livro ele apresenta muitas meditações sobre como se soltar das coisas.

Bhante G: Essa é uma boa idéia. A pessoa precisa ser lembrada do fato de que ela comeu tantas vezes ao longo da sua vida e que todas aquelas refeições se foram. O que restou delas agora? Todas as atividades, todos os pensamentos, todas as posses materiais se foram.

Portanto, não importa quanto tentemos nos agarrar a algo, isso irá escapar das nossas mãos. E é uma boa idéia fazer com que as pessoas tenham consciência disso. Quanto mais tempo você se apegar mentalmente, mais doloroso será. É como apertar o punho. Quanto mais você aperta o punho mais doloroso é. Ao abrir o punho e relaxá-lo você sentirá alívio e conforto.

Do mesmo modo, neste momento, se você liberasse a sua ansiedade, tensão, aperto, sentiria o alívio da dor, relaxamento. Esse é um bom pensamento – soltar-se das coisas. E essa é outra coisa que fazemos na meditação Vipassana. Soltamo-nos das coisas. Desfrutamos delas enquanto nos dão prazer, mas não nos agarramos a elas. Coma, se for saboroso e desfrute o sabor! Mas se não for saboroso, se for desagradável, não se agarre nisso!

Sudhamma: Quando você começou a falar sobre a morte disse que havia a morte convencional e a morte final. Fale sobre a morte final.

Bhante G: A morte final é a morte da pessoa iluminada. Uma pessoa iluminada tem o seguinte tipo de pensamentos. Primeiro ela pensa, “Bem, fiz o que devia ser feito. Não há mais nada por fazer.” Esse é um dos mais perfeitos e maravilhosos pensamentos para se ter na mente. Podemos morrer a qualquer momento. Não devemos esperar para ter esse pensamento. A qualquer momento podemos pensar, “Fiz tantas coisas na minha vida. Essas são as coisas que eu deveria ter feito e eu as fiz. O que estou fazendo agora são coisas adicionais, tarefas adicionais em relação às minhas tarefas originais. Posso muito bem ficar sem essas tarefas adicionais.”

As tarefas adicionais são os serviços prestados ao mundo por uma pessoa iluminada. Ela não precisa deles, mas o corpo e a mente ali estão, e existem seres que sofrem, então porque não viver de forma útil e com atenção plena para o benefício deles. Assim ele diz, “Para mim não há nada mais a ser feito. Eu fiz tudo.”

Segundo, e esse é o pensamento racional da pessoa iluminada, ele está baseado na libertação da mente da pessoa iluminada. Ela pensa, “Estou liberada.” Esse tipo de pensamento aparece na sua mente sem qualquer esforço, naturalmente.

Por outro lado, sempre que ela pensa no seu corpo, ela compreende a sua natureza e isso não gera apego. Ela se encontra num estado de soltar-se de todas as coisas. Deste modo, ela não tem nada pessoal a que se apegar – nenhum ser ou pensamento, ou coisa. Isso também ocorre de forma natural.

Mas em outros casos, apesar de ter se soltado de tudo, a pessoa pode ainda possuir o desejo de renascer. Talvez ela queira renascer num lugar melhor ou se viveu esta vida com serenidade, teve uma vida ideal com uma esposa ideal, poderá dizer, “Gostaria de ter essa esposa na minha próxima vida. Gostaria de renascer e ter o mesmo tipo de vida que tive, o mesmo conforto, a mesma satisfação emocional, espiritual que fez esta vida tão pacífica. Portanto, que eu tenha esta vida novamente.” Então não importa quão nobre a pessoa seja, ela terá a mesma vida novamente. Ela irá renascer porque, a despeito da sua nobreza, ainda possui desejo.

Mas uma pessoa iluminada é mais nobre. Quem está liberado não possui sequer esse desejo. Ele sabe que até mesmo esse desejo é criado pela mente. Que isso é sankhara (formação mental condicionada e impermanente).

Qualquer sankhara, não importa quão completo e benéfico aparente ser, é impermanente, Além disso, uma pessoa iluminada sabe que a sua morte está extinta, isto é, que ela nunca irá morrer outra vez. Para morrer outra vez é necessário nascer outra vez. “Portanto esta é a minha última morte. Este é o meu último nascimento. Para mim não há mais nascimento, não há mais morte. Não há nada além disso.” Ele alcança a sua realização.

Por conseguinte, isso é o que chamamos de morte final.

Quando uma pessoa iluminada se aproxima da morte final, ela não necessita de nenhum meio de consolo à sua volta para ajudá-la, isto é, mestres e outros para consolar o seu corpo e a sua mente.

Essa pessoa não terá nenhuma recordação daquelas que surgem no momento próximo da morte. Uma pessoa comum se lembra das coisas que fez, seu kamma; e teme o lugar onde irá renascer. A isto se denomina o “sinal.” Ela terá o sinal do lugar em que irá renascer. Isso significa que no momento da morte, se você for renascer, pode ser que veja a sua mãe humana. Se for renascer como animal, verá o animal.

Sudhamma: Como uma face?

Bhante G: Como uma visão.

Sudhamma: Uma pessoa? Um útero?

Bhante G: Se for um renascimento humano, talvez umidade, como num útero. Pode ser que você veja um útero e sinta como é estar num útero. Se você for renascer como humano poderá ver isso. Se for renascer como um ser divino, verá um lugar cheio de paz.

Mas, quando a morte final se aproxima, você não vê nenhum desses sinais. Por isso é chamada “sem sinais.” Não existe um sinal naquele momento.

E essa é a visão Budista do nascimento, morte e libertação.

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